Angola melhorou, com a nova Lei do Investimento Privado, as condições para estimular o investimento necessário à diversificação da economia, mas deve aprofundar reformas e aproveitar melhor as infra-estruturas, como o Corredor do Lobito, afirma a investigadora Áurea Mouzinho.
No recente estudo intitulado “Perceber o panorama regulatório do IDE em
Angola”, a cargo do Instituto Sul-Africano de Relações Internacionais
(SAIIA), Áurea Mouzinho afirma que as reformas introduzidas pela nova
lei “simplificaram substancialmente os procedimentos de investimento
associados à repatriação de capitais e ao regime de benefícios fiscais”.
“Estas
melhorias são de grande importância, uma vez que aumentam a
imparcialidade do regime de investimento privado. No entanto, resta ver
como os novos regulamentos de aplicação irão funcionar na prática e, em
particular, se estas medidas levarão a uma significativa redução da
burocracia e da morosidade no processo de autorização de investimento”,
adianta.
Para Áurea Mouzinho, a melhoria da legislação deve vir a par
de “reformas institucionais de grande envergadura, nomeadamente em
termos de transparência, gestão fiscal e Estado de direito.”
A mais
recente edição do estudo “Doing Business” do Banco Mundial nota que
Angola facilitou o capital mínimo requerido para a constituição de uma
empresa e reduziu impostos, além dos impostos sobre o trabalho e sobre
lucros, mas no geral mantém o país nas últimas posições da tabela (182.º
em 190 países).
A nova versão da Lei do Investimento Privado, entre
outras reformas relevantes, considera uma empresa “angolana” se esta
tiver sede no território nacional e se 51 por cento ou mais do seu
capital social for detido por angolanos, além de instituir requisitos de
parceria obrigatória com cidadãos, empresas públicas ou empresas
privadas nacionais para investimentos nos sectores de energia e água,
transportes e logística e construção civil, entre outros.
Os sócios
angolanos devem deter, pelo menos, 35 por cento do capital e tomar parte
efectiva na gestão da sociedade, conforme previsto no acordo de
accionistas.
A responsabilidade pela promoção do investimento privado
foi atribuída à Agência Angolana de Promoção de Investimentos e
Exportações, recentemente fundada. Após a aprovação da nova lei, o
Governo tomou providências para a criação de departamentos ministeriais
especiais e unidades do governo provincial para apoiar e acompanhar o
processo de investimento.
“Se os departamentos ministeriais especiais
ajudarão efectivamente a reduzir a burocracia e morosidade no processo
de investimento dependerá, a longo prazo, da capacidade do Governo para
coordenar actividades e acompanhar o desempenho dos diversos órgãos”,
afirma Áurea Mouzinho.
Para a investigadora, outro factor a favor do
Governo para melhorar a capacidade de atracção da economia angolana como
ponto de acesso aos mercados regionais é o aproveitamento de
infra-estruturas como o Corredor de Transportes do Lobito, reaberto em
2013 depois de reconstruído com financiamento da China. Trata-se de “uma
via particularmente importante para o conseguir, uma vez que já está
instalada”, frisou.
“O Corredor do Lobito é de grande importância
estratégica para a economia angolana. (…) A reconstrução do
caminho-de-ferro, por si só, apoiou o aparecimento de centros comerciais
intermediários que atraem pequenos comerciantes e operadores de
transportes informais. Há também amplas oportunidades para usar a
mão-de-obra local”, lê-se no estudo.
“O Corredor do Lobito atravessa
cerca de 12 milhões a 20 milhões de hectares de terras aráveis com
potencial de pastoreio e fontes de água acessíveis”, ainda por explorar.
De acordo com o estudo, entre 2013 e Maio de 2015, os projectos de
carvão, petróleo e gás natural foram, de longe, os maiores receptores de
investimento estrangeiro, no valor de 65,576 mil milhões de dólares,
representando 87,27 por cento do total.
Seguem-se o sector
imobiliário, com 4,138 mil milhões de dólares, serviços financeiros, com
1,242 mil milhões, e materiais de construção, com 1,197 mil milhões de
dólares.
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