Na recta final da terceira temporada do conceito cultural intimista “duas noites, um show”, a empresa Nova Energia apresenta a estrela criada nas Gingas do Maculusso, primeira mulher a vencer o Top dos Mais Queridos, concurso da Rádio Nacional de Angola.
A seguir carreira a solo desde 2003, ano em que conquistou o país e a diáspora com o sucesso “Eme Kia”, obra discográfica de grande aceitação sustentada pela participação de “monstros sagrados” da música de Angola, como Bonga, Betinho Feijó, Bangão e Paulo Flores, Patrícia Faria convida os seus fãs para uma viagem pelas sonoridades que fazem de si um nome a revisitar, mesmo sem obra recente no mercado.
Assumidamente uma intérprete do semba, apesar de se expressar bem noutros estilos e notas musicais, “La negra caliente” tem no repertório um acentuado pendor para a abordagem social, como a pedofilia no tema “Caroço quente”, composição de Bonga: “Se a fruta está verde/o caroço é veneno/no cheiro do vento/ai!/dá para perceber.../me espera na esquina/você!/depois da jornada/há muita maralha/para pouca goiaba.../me encosta na pedra/da tua parede/caroço aquecido/magoa na pele...”
O homem que vive do suor da mulher também mereceu o sentido crítico da cantora que enche o palco com o seu jeito extrovertido. “Quando ele me quero na cama/sabula que me ama/quando ele me quero na cama/sabula que me ama/depois de sacar toda a escama/arrasta o meu nome na lama.../sai já daqui oh pacheco!/não suporto chuleco.../já está na porta a sua trouxa/agora vais tomar sopa na concha”, é o grito de lamento expressado em “Cama e mesa”, num linguajar típico dos centros urbanos de Angola.
Mas a presença de Patrícia Faria no Show do Mês está longe de ser uma estreia, por ter estado nas duas primeiras temporadas com Gersy Pegado, Irina Vasconcelos, Djanira Mercedes e Ana Yadira Cabãnas, nas Vozes de Março, e Ricardo Lenvu, Mister Kim, Paula Daniela Miranda e Toni do Fumo Júnior, nos 50 Anos dos Kiezos.
“Baza baza”, lançado em 2009, é o segundo disco da cantora, jurista de profissão com actividade vincada na radiodifusão, como pivô dos programas Jovial Cidade, do qual se destaca a rubrica “Ouvi dizer”, e Sábado Azul, na Rádio Luanda. Esteve ainda no corpo de júri do concurso Angola Encanta, vocacionado para a descoberta de talentos no campo musical. O projecto musical Show do Mês está em exibição há dois anos na unidade hoteleira localizada em Talatona, com passagens pontuais pelo Centro de Conferências de Belas (CCB) no Futungo II, para momentos mais apoteóticos.
Sucesso e nostalgia
Nos dias 30 de Setembro e 1 de Outubro, os frequentadores do Show do Mês viajaram no tempo teletransportados pelo “Angola 70s”, o concerto que reavivou memórias das últimas duas décadas do período colonial.
As cordas de Boto Trindade, Teddy Nsingi, Zeca Tirylene e Mias Galheta, num compasso marcado pelas tumbas de Joãozinho Morgado, solaram para três gerações de apreciadores do semba.
Legalise, Mister Kim, Zino e Paulo Garcia provocaram lágrimas de satisfação e nostalgia na plateia composta por pais, filhos, avós, tios e sobrinhos, sogros e genros, com a interpretação de canções usadas como arma de combate e meio de afirmação cultural e patriótica do angolano, durante o processo de descolonização.
Em mais de duas horas de concerto, nas duas noites, os temas “Página rasgada” de Zé do Pau, “Candinha” e “Sofredora” de David Zé, “Dito Zé” e “Mana” de Artur Nunes, “Mukongo” e “Zita” de Urbano de Castro, “Senhora escutai minha voz” de Teta Lando, “Chofer de praça” de Luís Visconde, “Pensamento conforme o tempo” de Minguito, “Lamento de mãe” de Tony do Fumo, “5 de Julho” do Conjunto Merengue, “Plena jacto” e “Mariana” dos Águias Reais, “Merengue” de Paulino Pinheiro e “Bartolomeu” de Prado Paim fizeram as delícias dos presentes, que convenceram a Nova Energia a realizar um mega espectáculo no CCB.
Fonte: Jornal De Angola
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