HOJE
entraram em vigor as novas medidas de segurança aérea adoptadas pelos
Estados Unidos e Reino Unido. Washington e Londres decidiram esta semana
proibir dispositivos electrónicos na bagagem de cabina, em voos
procedentes de vários países árabes e da Turquia.
De
acordo com a decisão dos EUA, todos os dispositivos electrónicos
maiores que um telefone celular estarão proibidos nas cabinas, devendo
ser despachados com a bagagem. A medida é aplicada aos laptops,
“tablets”, consolas de jogos e livros electrónicos, aparelhos de DVD,
câmaras fotográficas, entre outros.
O
Reino Unido proibiu nas cabinas de voo “qualquer telefone, computador
portátil ou ‘tablet’ maior que um telefone celular de tamanho normal
(comprimento de 16 cm, largura de 9,3 cm e espessura de 1,5 cm) “.
Os
EUA aplicarão as medidas aos voos directos procedentes de 10 aeroportos
de oito países: Jordânia, Egipto, Turquia, Arábia Saudita, Kuwait,
Qatar, Emirados Árabes Unidos e Marrocos.
Londres
aplicará as restrições aos voos procedentes de todos os aeroportos da
Turquia e de cinco países árabes: Líbano, Jordânia, Egipto, Tunísia e
Arábia Saudita.
A
decisão norte-americana afecta 50 voos diários de nove companhias
aéreas: Royal Jordanian, EgyptAir, Turkish Airlines, Arabia Airlines,
Kuwait Airways, Royal Air Morocco, Qatar Airways, Emirates e Etihad
Airways.
O
anúncio britânico afecta, por sua vez, a 14 empresas: British Airways,
EasyJet, Jet2.com, Monarch, Thomas Cook, Thomson, Turkish Airlines,
Pegasus Airways, Atlas-Global Airlines, Middle East Airlines, Egyptair,
Royal Jordanian, Tunis Air e Saudia.
MOTIVOS
As
decisões tomadas pelas autoridades norte-americanas e aplicadas pela
TSA (Administração de Segurança no Transporte, em inglês) normalmente
são consequência de ameaças identificadas pelos serviços de informação,
explica à AFP Jean-Charles Brisard, presidente do Centro de Análises do
Terrorismo.
Aliás,
Washington justiçou a medida com o risco de atentados. “A análise dos
serviços de inteligência indica que grupos terroristas continuam
apontando para o transporte aéreo e procuram novos métodos para cometer
atentados, como dissimular explosivos em bens de consumo”, explica uma
fonte do Governo norte-americano. De acordo com o canal CNN, que citou
uma fonte do Governo de Donald Trump, a decisão estaria relacionada a
uma ameaça do grupo Al-Qaeda na Península Arábica (AQPA), braço do grupo
extremista no Iémen.
Em
Londres, o Ministro dos Transportes, Chris Gayling, disse ao Parlamento
que é necessário adequar as medidas de segurança às “mudanças
constantes” na “ameaça terrorista”.
Segundo
Brisard, “alguns grupos como AQPA tentam há muitos anos adaptar-se de
forma progressiva às medidas de segurança aplicadas pelos Estados Unidos
e seus aliados, principalmente miniaturizando os explosivos”.
Brisard
acrescenta que o AQPA é um dos que está mais adiantado quanto à
sofisticação, sobretudo na miniaturização de artefactos explosivos.
POR QUE COMPUTADORES PORTÁTEIS E “TABLETS”
Após
a aproximação entre membros da AQPA e grupos rebeldes sírios, em 2014, a
TSA já havia proibido as baterias descarregadas nos computadores
portáteis nos aviões. Temia-se que “o espaço destinado à bateria pudesse
esconder um explosivo em miniatura de vários gramas”, explica Brisard.
Sébastien
Caron, director-geral do ASCT, um centro de formação sobre temas de
segurança aeroportuária, explica que nos sistemas electrónicos, como
computadores e “tablets”, encontram-se todos “os elementos de um
artefacto explosivo, com excepção do detonador e do próprio explosivo.
Estas são as únicas partes que devem ser acrescentadas aos aparelhos
para provocar uma explosão”.
RESTRIÇÕES SELECTIVAS
Reconhecendo
os riscos de atentados terroristas em aviões, analistas questionam, no
entanto, vários aspectos da proibição, pondo em dúvida a sua eficácia na
prevenção de ataques terroristas.
As restrições vão causar dor de cabeça para as companhias e os usuários, diz o consultor aéreo John Strickland.
Para
Matthew Finn, director da consultoria de segurança aérea Augmentiq, não
faz sentido só alguns voos serem afectados. “Se realmente houver
‘Inteligência’ (dados) confiável sobre uma ameaça de explosivo
improvisado escondido, a questão então deverá ser como eliminar o risco
em todas as aeronaves indo para todos os destinos”, argumenta Finn.
“É
incerto por que apenas algumas companhias e países são afectados, dado
que um potencial terrorista poderia facilmente mudar de rota (para fazer
um ataque) ”, diz o especialista Shashank Joshi, do britânico Royal
United Services Institute.
Mesma
opinião tem o ministro turco das Relações Exteriores, Mevlüt Cavusoglu,
que questiona a eficiência da medida, porque “um terrorista (…) pode
embarcar de qualquer lugar”.
Até
agora, apenas os EUA e o Reino Unido tomaram essas medidas de
seguranças, mas a França disse que estava em curso uma análise de riscos
para decidir que medidas tomar.
O
Canadá, membro da aliança internacional de serviços de inteligência
“Five Eyes” (cinco olhos), com EUA, Reino Unido, Austrália e Nova
Zelândia, também está a estudar a possibilidade, de acordo com o
Ministro dos Transportes, Marc Garneau.
Alemanha, Austrália e Nova Zelândia rejeitaram até o momento a ideia.
Segundo
a Organização da Aviação Civil Internacional (ICAO), a proibição de
transportar esses aparelhos electrónicos é um poder discricionário dos
Estados-membros.
O
organismo das Nações Unidas apoia, em geral, “os níveis de conformidade
mundial” em matéria de segurança, de modo a “facilitar a mobilidade e a
conectividade internacional”.
RAZÕES COMERCIAIS
O
anexo 17 da Convenção de Chicago sobre a aviação civil internacional
prevê que “os passageiros e as bagagens de mão devem ser inspeccionados e
passados pelo detector”, lembra a ICAO num comunicado.
É
responsabilidade, porém, de cada Estado-membro “avaliar constantemente o
nível de ameaça” que pesa sobre o transporte aéreo e “ajustar
consequentemente as normas de segurança”, como faz a própria ICAO, diz.
Entretanto,
alguns suspeitam que a administração norte-americana, acusada de
defender o proteccionismo desde a eleição de Donald Trump, tenha imposto
esta proibição às três grandes companhias aéreas do Golfo por motivos
comerciais.
“Não
é uma medida de segurança. É uma decisão hostil contra companhias que
têm êxito e competem com as norte-americanas”, afirma no Twitter o
analista Abduljaleq Abdulá.
Para
o director da companhia de investimentos Kuwait Financial Centre, Raghu
Mandagolathur, trata-se de uma “medida proteccionista” com o objectivo
de “incitar os viajantes de negócios a escolher itinerários através de
aeroportos europeus”.
Para
o especialista norte-americano Kyle Bailey, “as empresas aéreas
norte-americanas vão se beneficiar da medida, já que todas as companhias
contam com os viajantes de negócios”.
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